Um carnaval lá, não aqui | Crônica de Marcela Elisa

 por Marcela Elisa__


Foto de Masaaki Komori na Unsplash


É claro que eu escreveria sobre o carnaval. Eu não via a hora que ele acabasse e não é a primeira vez que sinto isso, essa vontade de chegar na Quarta-Feira de Cinzas e continuar o ano. Não, não sou rabugenta, ainda que pareça ser. É que tem dois anos — esse e o último — que minhas maiores fantasias estavam gastas demais para colocar meu bloco na rua. 

Ano passado estava em Recife nessa data e você não acredita: não gostei. Muita gente, muito calor, pouco banheiro, muita gente, muito calor. Naquela ocasião, fui insistente. Saía todos os dias, brilho nos olhos, pena na cabeça, meia arrastão e nada. Nada. Queria mesmo era estar na minha cidade velha de guerra em um carnaval mixuruca e com bastante espaço para dançar. Bom, logo pensei que isso era coisa de “vibe”, de que eu estava mais tranquilona, quem sabe com saudade de casa.

Chegou 2025 e a vibe permaneceu, mas diferente. Dessa vez eu estava na minha Bom Jesus dos Perdões, marchinha rolando, cervejinha gelada, paqueras a mil...e eu queria mesmo era estar na piscina. O calor que fazia, meu deus. Uma hora depois de colocar a fantasia e pintar os olhos de laranja, saí do meio do bloquinho, voltei para o sítio e o restante da folia entre a toalha, o biquíni e o sofá. Mas aí uma coisa estranha aconteceu.

Quando  tirei o biquíni para colocar o short e a blusinha de ficar em casa, me veio a nítida sensação de que queria mesmo era estar na cama. Não em qualquer cama. Queria minha cama king size, cheia travesseiros, com aquele lençol comprado nas Pernambucanas, ouvindo uma música em tom baixo, sem gritaria, sem crianças pedindo água. Só deitada na cama, com as pernas esticadas e os braços abertos. Entretanto, não queria estar sozinha.

Aí matei a charada. O que eu realmente queria era estar com você. Sua barba por fazer roçaria meu rosto quando você tentasse me beijar de leve e o seu corpo estaria tão perto do meu, tão perto do meu, que a cama cheia de espaço seria um mar inteiro para falarmos de como esse carnaval está diferente. “É mesmo, querida, nunca passei um carnaval como esse, onde estou exatamente onde gostaria de estar”.



Me chamo Marcela Elisa e sou mãe do Francisco, além de escritora, professora na educação básica e pesquisadora da Linguística Aplicada. Atualmente, moro no sul da Bahia e me dedico a ensinar Língua Portuguesa para a comunidade de Taipu de Dentro, enquanto escrevo meu primeiro livro sobre as experiências de ensinar e aprender pelo Brasil afora.  No mais, gosto de tarot, de ir a shows e de suar na corrida.