Todas As mulheres de Chico | Crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro___


                                                        
                                                    
                                                   
                                                      
                                                        
                                                
                                                      
                                                 

                                    

Como o poema de Vinícius de Moraes, Receita de Mulher — aquele em que apregoa ser a ‘beleza fundamental’ em detrimento ‘às muito feias’ — e que me perdoe Vininha, mas isso foi um tanto quanto machista, repito mais uma vez: não existe o feio e bonito como forma física. Também não existe o lugar comum de “quem ama o feio, bonito lhe parece”. Afinal, o que é a beleza? Basta um sutil sorriso, um olhar encantador que se torna avassalador, uma palavra, muitas vezes uma única e relevante palavra doce e inteligente na hora certa — que fique claro; na hora certa, que não será jamais a ‘hora ‘H’’. A beleza é intrínseca, é sutil, muitas vezes exótica e quase sempre avassaladora. A beleza está nos olhos, no que captam os olhos. É o conjunto da obra, ímpar em singularidade, plural em consequência.

Chico nos dá uma ‘fórmula’ composta em verso e canto, sublime em sua personificação, assim como se fosse uma poção mágica, com ingredientes muito especiais, para ‘construção’ da mulher. Não uma receita, mas sutis detalhes que compõem essa obra-prima que nos deixam à flor da pele, será que será!

São Ritas, Carolinas, Genis, Beatrizes, Anas, Joanas, Rosas, Iolandas, Marias e Marietas, Cecílias, Cristinas, Helenas, Teresas, Bárbaras, e como são bárbaras, Luísas, Angélicas e tantas outras das índias, do oriente, do ocidente, francesas, de Amsterdã, de Angola, havanesa, de além-mar amar, do Rio, São Paulo, acolá, cidade submersa, estranhas civilizações.

São fortes, são frágeis, mas, acima de tudo, são lindas! Mulheres de Athenas. Lindas sirenas, morenas, que se perfumam, se banham com leite, se arrumam em suas melenas. Mulheres! Querem ver o astronauta descer na televisão. Moças decididas sempre a se supermodernizar. 

Roubam sentidos, violam ouvidos com tantos segredos lindos e indecentes. Lindas, absolutamente lindas! Musas obtusas, musas do fado, mães gentis por todo ano, não só por um abril. Que nos deixam, no fundo, sentimentais e com uma boa dosagem de lirismo em rendas do Alentejo. Tanto mar amar com cheirinho de alecrim. Que fazem o coração fechar os olhos e sinceramente choram e redimem, são mais, muito mais, são poços de bondade de açúcar e afeto.

Outro ingrediente fundamental da mulher de Chico é o seu amor e um jeito manso que é só delas. Somos testemunhas oculares do bem que elas nos fazem, ali, sempre embevecidos, enaltecendo os predicados e predicativos da perfeição sublime, dizem, saídas de nossas costelas. Ó bem-amadas costelas, ó bem-amados ventres que nos aquecem por nove longos meses, nos protegem e nos abrigam. Ó amados acalantos, que nos ninam e embalam nossos sonos e sonhos, que alardeiam que ali está bem mais que uma simples criança, que nos ensinam a andar sem os pés no chão.

Mulheres, que ao conhecer, sonhamos, fazemos tantos desvarios, rompemos com o mundo, queimamos nossos navios em travessuras de noites eternas, que damos nossos olhos para tomarem conta e, num profundo despertar, explodimos em alegria dum “eu te amo!” sem termos a mínima noção da hora, querendo, absolutamente, que o mundo pare naquele instante para que se torne a eternidade, pois, para sempre é sempre por um triz e quem dera ‘amarrar’ esse amor por quase um mês. De paletós que enlaçam vestidos, de seios que repousam suavemente sob nossas mãos. 

A beleza que dança no sétimo céu, estrelas, divinas, atrizes, como somos felizes de estar em suas vidas, ah, se pudéssemos entrar em suas vidas, em um canto, ali, guardadinho junto ao peito, mais para a esquerda, onde pulsa a sensibilidade. A formosura dos poetas mais delirantes, que não têm tamanho nas juras dos profetas embriagados, porque todos os sinos irão repicar tanta harmonia que há de aplacar pobres corações inebriados de amor. 

Que eu seja o terceiro a chegar sem nada levar, sem nada dizer, apenas te chamando de mulher… e agora que cheguei, eu quero a recompensa, eu quero a prenda imensa dos carinhos teus, e o dia nascerá em paz!



Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa