por Taciana Oliveira___
A
história começa na comemoração do aniversário de Nadia
(Natasha Lyonne),
que após um acidente “fatal” mergulha em uma espiral de
repetições diárias com efeitos diferentes para determinadas
situações de sua existência. Nessa viagem é possível vislumbrar
passagens determinantes na formação de sua personalidade, e
perceber que o seu envolvimento com o mundo estabelece consequências
inevitáveis para quem a cerca. Com um elenco extremamente afinado,
uma montagem ágil e uma trilha sonora que te pega no primeiro verso
de Gotta Get Up,
de Harry Nilsson,
a série é uma caixa de referências pop que vão desde a citação
do filme Vidas em
Jogo
de David Fincher
até o nome da empresa onde Nadia trabalha, Rock
and Roll Games,
uma homenagem explícita a produtora Rockstar
Games,
das séries Grand
Theft Auto
e Red Dead
Redemption.
Sim,
Boneca Russa
merece uma maratona. Assisti de um fôlego só. A série tem um
roteiro inteligente, uma narrativa enxuta construída por diálogos
hilários. A ironia e o loop atemporal que permeia os oito episódios
são a fonte de sustentação para o desenvolvimento dos conflitos
psicológicos das personagens. Porém, nem tudo na série é motivo
pra gargalhada. Rir de tudo em Boneca Russa é sinal de desespero.
Natasha Lyonne |
Fuja
do clichê “mais
um roteiro parecido com o filme Feitiço do Tempo.”
A produção em questão não é o primeira a utilizar do mesmo
recurso narrativo. La
jetée,
um curta-metragem de ficção científica, dirigido pelo francês
Chris Marker
em 1962, já apostava na fórmula. Há dezenas de outros títulos que
utilizam dessa ferramenta criativa para criar histórias que
transcendem além do loop atemporal e da viagem no tempo. Boneca
Russa
não é uma simples comédia de costumes. A proposta das roteiristas
Natasha Lyonne,
Leslye Headland
e Amy Poehler,
extrapola comparações simplistas com o filme de Harold Ramis.
Fuja dessa premissa e dê o play no primeiro episódio.
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Taciana
Oliveira é cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada
por fotografia, café, música e literatura. Coleciona memórias e
afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir:
Ter bondade é ter coragem.