por Manoel Tavares Rodrigues-Leal__
Manoel T. R.-Leal (c 2013) — fotografia em alto contraste © LdeBTavares — fundo negro por Daniel Monteiro
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Consumo cigarros e uma novíssima ilusão d’oiro:
Novas Índias, Brazis, se me deparam em austeras, remotas viagens.
Mas há os subtis desertos, retratos de infância, e eu naufrago na espuma das imagens.
Lx. 10-7-76 – Talvez uma evocação: o irmão mais velho viveu e morreu no Brasil.
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Que antigo beijo beija o umbigo de um corpo já antigo?
Sei que beijos navegam maravilhas, entregas, verticais visões…
Me pranteio porque em um beijo busco promessa e absoluto. Jamais te entregas,
oh cativa imagem. Agora, amar-te é escultura de loucura e latente juventude.
Lx. 11-7-76
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E os sítios são e, outrossim, se dispersam como verdadeiras setas
que me alvejam, de tão perto,
que o copo do corpo se perde e tu desertas,
invocando lindas figuras femininas, tão em flor, e, em um mapa deserto, dispersas.
Lx. 12-7-76
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Jamais serei diário quotidiano como os outros, útil como os outros, inúteis.
Que grande naufrágio em a minha vida, ao acordar, em minhas manhãs fúteis.
E beleza elaboro como memória ou metamorfose. Qual ave, o poeta é nómada, que queimadas pálpebras…
Lx. 19-7-76
Manuscrito do último poema
Poemas do Livro do Amador Nómada publicados na revista Caliban:
https://revistacaliban.net/o-amador-n%C3%B3mada-1d9096fcacc5
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*Inéditos coligidos do caderno Livro do Amador Nómada (1976) por Luís de Barreiros Tavares
Manoel Tavares Rodrigues-Leal (Lisboa, 1941-2016) foi aluno das Faculdades de Direito de Lisboa e de Coimbra, frequentando até ao 5.º e último ano, mas não concluindo. Em jovem conviveu com Herberto Helder no café Monte Carlo frequentando com ele “as festas meio clandestinas, as parties de Lisboa dos anos 60 e princípios de 70”. Nesses anos conviveu também com Gastão Cruz, Maria Velho da Costa, José Sebag, entre outros. O seu último emprego foi na Biblioteca Nacional, onde trabalhou durante longos anos (“a minha chefe deixava-me sair mais cedo para acabar o meu primeiro livro, A Duração da Eternidade”). Publicou, a partir de 2007, cinco livros de poesia de edição de autor. As suas últimas semanas de vida foram muito trágicas, caído no quarto, morrendo absolutamente só no Natal e passagem do Ano 2015-2016.