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por Rebeca Gadelha __

Link para download da edição completa do Manifesto: Manifesto Balbúrdia Poética: 80 tiros




por João Gomes __


Dividido esquematicamente, De mim ninguém sai com fome nos oferta um apanhado de temas que, numa leitura descuidada, podemos acreditar que trata sempre da mesma presença/ausência, quando mais parece que tudo está associado ao “jeito de arrumar o ar no peito”, o ritmo suave no “muito do que eu dissesse poderia ser poesia”. Tendo o amado como o interlocutor de sua metalinguagem irônica e sem chatear o leitor, seu interlocutor de fora, a poeta mineira Norma de Souza Lopes, nascida em 1971 e autora de Borda, quer ser amada porque sabe que na poesia, como no amor, “é só esperar o dia bom”. Seus poemas, alguns, querem ser sussurrados em “decilitros de ar” sendo “quase um suspiro”, já noutros devemos gritar “e se foder com violência” num frenesi tipo Roberto Piva. O que mais encanta é isso partir de uma mulher que faz de seus anseios estéticos a representação pluralizada do desejo feminino sem, necessariamente, se fazer de objeto.


por Norma de Souza Lopes____

Obra de  Mónica Mayer
Link:https://goo.gl/WEVirP






      Em 2015 mulheres do país inteiro saíam às ruas para combater o assédio. Era a primavera feminista brasileira. O estopim, uma garota de doze anos que participava de um programa de culinária. A indignação tomou proporções imensas. E era justo que fosse assim. Desde os tempos bíblicos homens se comportam dessa maneira. Trata-se de uma prática milenar. E precisa acabar. Resolvi contar aqui o #primeiroassédio versão bíblica que, diferente das circunstâncias de hoje, foi julgado de maneira favorável. Estejamos unidas para evitar, combater e resolver com justiça essas violências.   Esta é a história da Susana, filha de Joaquim e mulher de Hilquias. Bonita como um lírio, cultivava o hábito de se banhar num lago no meio do jardim ao meio dia. Tomar banho todo dia era um privilégio naqueles tempos. Joaquim devia ser muito hospitaleiro porque vira e mexe em sua casa estavam os anciãos da aldeia julgando casos do populacho, uma vez que eram juízes. As vistas da bela Susana e de seus hábitos acenderam os velhinhos, coisa que as pessoas costumam ignorar. Acham que velhos são assexuados. 

Arderam tanto que acabaram confessando-se um para o outro e tramando um terrível ardil contra a pobre Susanita. Como de costume, ao meio-dia a menina dirigiu-se para o jardim, despiu suas vestes para banhar-se e pediu às criadas para buscar óleo e bálsamo e também para fechar a porta do jardim. Com a saída das criadas os velhos se lançaram sobre Susanita ameaçando: "As portas do jardim estão fechadas, ninguém nos vê, e nós te desejamos. Por isso, consente conosco e junte-se a nós! Se recusares, testemunharemos contra ti que um moço esteve contigo, e que foi por isso que afastaste de ti as meninas". Susanita decidiu que ceder seria uma ofensa a seu Deus e pôs a boca no trombone. E os anciãos cumpriram a ameaça de calúnia em assembleia e condenou a pequena à morte por apedrejamento porque o que a turba quer é ver sangue. 

Daniel ainda era novinho mas encasquetou com a palavra dos dois juízes e levou os dois para a acareação. Um disse que tinha visto o ato debaixo de uma árvore alta e o outro disse que tudo ocorreu debaixo de uma árvore baixa. Descoberta a mentira dos anciãos, a multidão feliz pode apedrejar os dois e Susanita voltou aliviada para os braços de seu Hilquias, passear pelo jardim. E foram felizes para sempre. Ou não. Aqueles não eram bons tempos para as mulheres.