por Taciana Oliveira__
Fotografia de IssaK Alexandre KaRslian |
Olhou para o Sol
mas viu a noite dos dias
Olhou para a Lua
mas viu o eclipse das noites
O que lhe atravessava
chegava lhe quadriculado
desde a pequena infância
Quando se descobria ao lado
do marido era puro afã
por liberdade tomada à força
sob tiros opressores do talibã
O sol a lua os tiros ela-objeto
Era o que ela era- Era após Era
uma menina uma mulher afegã
Assim acordava
Assim dormia
Coberta por telas
em seu jazigo
Na esperança
de um outro amanhã
de aquarelas para ela
mãe irmã amigas e
seus muitos filhos.
*poesia selecionada para a
coletânea “Por elas”. Do Mulherio das Letras para as mulheres afegãs 2021
Via Láctea
Pisaram em nosso jardim
Queimaram
Derrubaram
A centenária araucária
A jojoba a aroeira o jasmim
O desrespeito com as
gentes
A fome volta dando lugar ao pasto- capim
Aqui. Ali. Por
imensos canteiros brasis.
Povos ancestrais lutam contra o fogo
Pré posto ao som do choroso sabiá laranjeira
Pisaram a mata arrancaram flores
Sob a força das armas de festim
A procura é por ouro o porco dinheiro
Enquanto o aroma do sândalo e da cidreira
Cedem sua vez dando lugar ao chumbo e ao carbono.
O prato principal sobre a mesa de madeira
É a morte ceifadora ao
céu de Marte na via
Crucis orquestrada pelo capital: a.p.o.r.t.e.
Só a via Láctea vê que a Terra incandescera...
*selecionado pelo concurso Vivara novos poetas, 2020
Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.