por João Gomes__
O coronavírus é um assunto que não se esgota porque é uma grande ameaça a tudo e a todos. Anunciado no último dia do ano passado num alerta da OMS após notificação de autoridades chinesas a respeito de casos de uma misteriosa pneumonia na cidade de Wuhan, infelizmente sendo impossível de firmar aqui um número de infectados e óbitos pela grande tomada da pandemia, pois já estaríamos desatualizados, segue vitimando descontroladamente. Apesar da tristeza e medo gerais, reproduzo a sugestão que encontrei num post no Facebook: “Alguém poderia desinstalar 2020 e instalar de novo? Essa versão veio com vírus.” Um vírus que entrou chutando governos de todo o mundo, fazendo um estrago já comparado ao da Peste Negra e das duas Grandes Guerras. Chegado a poucas semanas nas Américas, o pior ainda está por vir.
Fonte; Cecom UNICAMP |
O coronavírus é um assunto que não se esgota porque é uma grande ameaça a tudo e a todos. Anunciado no último dia do ano passado num alerta da OMS após notificação de autoridades chinesas a respeito de casos de uma misteriosa pneumonia na cidade de Wuhan, infelizmente sendo impossível de firmar aqui um número de infectados e óbitos pela grande tomada da pandemia, pois já estaríamos desatualizados, segue vitimando descontroladamente. Apesar da tristeza e medo gerais, reproduzo a sugestão que encontrei num post no Facebook: “Alguém poderia desinstalar 2020 e instalar de novo? Essa versão veio com vírus.” Um vírus que entrou chutando governos de todo o mundo, fazendo um estrago já comparado ao da Peste Negra e das duas Grandes Guerras. Chegado a poucas semanas nas Américas, o pior ainda está por vir.
Nós brasileiros tivemos a chance que alguns países não tiveram de estabelecer o isolamento social o quanto antes para conter a disseminação do vírus, apesar de termos tido o Carnaval. Na Itália, por exemplo, no dia 23 de fevereiro, 45 mil torcedores foram a Milão assistir a uma partida de futebol pela Liga dos Campeões. Considerada como uma bomba biológica, Milão não parou, seguiu normal quando havia já 650 infectados. Um mês depois o prefeito da cidade reconheceu que errou em não ter aderido à quarentena horizontal (total e não apenas dos grupos de risco) quando hoje já passam de 1000 mortos no país. Não pretendo buscar culpados, mas a normalidade não pode insurgir quando o mundo todo segue as recomendações da OMS, que é a de ficar em casa.
Por aqui os números são baixos, mas sabemos que estamos no começo da pandemia. Justamente por isso e o que já era de se esperar, o discurso de políticos que não entendem nada de nada já vem deixando confusa a população, e a imprensa vem cada vez mais se defendendo e fazendo seu papel, o de informar. Não podemos totalmente chamar de ignorante o presidente, pois ele defende em primeiro lugar suas bases eleitorais. Quando ele desobedece as recomendações de quarentena, indo para manifestações que aglomeram seguidores, para firmar-se ainda mais como mito, ao lado de eleitores que dão suas vidas e de suas famílias pelo extermínio em massa, é tão óbvio que seja ele e não outro. Um governo que nunca fez pelo país não poderia ser diferente num momento de tamanha preocupação mundial.
Leio exaustivamente sobre o coronavírus, desde antes do momento em que se anunciava os vencedores das escolas de samba, e a vontade que sinto é só de chorar. Além da de poder ficar mais em casa, é claro, se eu pudesse e não precisasse fazer entregas de bicicleta por aplicativos para sobreviver. Não sinto vergonha por estar no quadro de pessoas em vulnerabilidade econômica, mas não é demais dizer que muitas outras classes trabalhadoras, como a dos artistas e do comércio também estão. O socorro emergencial é o mínimo que o Governo Federal pode fazer pela economia do país, não fossem os impostos que devolverão cada centavo do socorro que muitos acham que é bondade aos mais vulneráveis.
Os grandes empresários do país já cobram do presidente para reabertura do comércio, prometendo fechar vagas de emprego caso o isolamento não seja suspenso até meados de abril. Não é demais lembrar que o surto por aqui começará justamente neste mês. Teatros sem abrir ao público, salas de cinemas com lançamentos adiados, gravações de novelas interrompidas, escolas fechadas porque as crianças são as mais assintomáticas. Como a solução para os não especialistas em nada é sempre sacrificar a população em nome de uma economia que já não crescia mesmo sem a epidemia, a normalidade por meio sobretudo da reabertura do comércio assusta ainda mais a todos. Seria a quarentena vertical, não total, quando sabemos que pessoas de todas as idades podem vir a falecer por complicações da Covid-19.
Sendo um assunto inesgotável, que sacrifica hábitos, como o de poder mostrar afeto por não ser permitido nenhum tipo de contato, impõe recomendações técnicas contestadas por leigos. É realmente uma crise, e sem precedentes. Na etimologia latina crise significa momento de mudança súbita, enquanto na grega: ação ou faculdade de distinguir, decisão, momento difícil. Então não seria exagero, ou fantasia, chamarmos de crise do coronavírus, não considerando como gripezinha, ou algo que passa sem complicações. Você pode até não ter graves sintomas, mas contaminado pode levar a vida de pessoas ao fim, o que seria tão grave como sair dando disparos por aí.
O desgoverno atual defende o armamento, logo o extermínio da população por um vírus contagioso seria mais eficaz que qualquer tiro à queima roupa. Por isso o pior não se conta, tudo é levado com irresponsabilidade e o Estado não protege como deveria. Ou ao menos o Federal não faz isso, enquanto o regionais ainda tentam num diálogo com seus municípios. O mundo não está questionando quanto tempo será preciso ficar em quarentena, mas por aqui pessoas como a ministra da Cultura, atriz que ao aceitar o cargo afirmou estar se casando com o governo, não poderia fazer diferente. Em seu perfil do Instagram postou e já deletou um texto criticando a quarentena, com uma foto sua de guardanapo no rosto, ironizando a utilização de máscaras por pessoas com sintomas.
“Você quer ficar em casa? Tá OK!”, como se fosse um pedido ou forma de agradar seu novo patrão. Em resumo, seu texto defende a ideia de que, para ficarmos em casa, alguém tem que estar na farmácia, no posto de gasolina e na padaria. Realmente, há certa comodidade, eu por exemplo não a ofereço completamente aos clientes me recusando a subir até seus andares quando entrego pedidos de restaurantes. Mas o argumento do seu texto não é o de ter compaixão de quem está trabalhando, é o interesse econômico de quem investiu na bolsa, de quem apoia a exploração em massa. Da forma criativa como foi escrito, com uma lista quase interminável, perdendo somente para o silêncio e a falta de bom senso ao confundir a população quando a solução já está estabelecida em tentativa da segurança de todos.
Para não terminar totalmente com uma energia ruim como o desserviço à humanidade de pessoas assim, trago aqui o álbum “Planeta Fome”, de Elza Soares, que se for escutado nessa quarentena pode fortalecer as paredes da mente e trazer luz aos dias de dor em que estamos vivendo. Na canção “Comportamento geral”, ouvimos: Você deve rezar pelo bem do patrão / E esquecer que está desempregado. Em “Não tá mais de graça”, temos a resposta à sua canção “A carne”: A carne mais barata do mercado não 'tá mais de graça / O que não valia nada agora vale uma tonelada / A carne mais barata do mercado não 'tá mais de graça / Não tem bala perdida, tem seu nome, é bala autografada. “País do sonho” e “Pequena memória de um tempo sem memória” são de um otimismo capaz de expandir a luta por um mundo melhor. E mais, a maioria destas letras aqui citadas são de Gonzaguinha, algumas da época da Ditadura.
Ouçam Elza, não escutem declarações fascistas, apenas as recomendações médicas, como a do Presidente da Academia Nacional de Medicina, Dr. Rubens Belfort: “Saiba que o vírus se espalha como areia fina num vento forte para todos os lados. Portanto, fiquem em casa.” E com uma comparação que achei de uma eficiência imensa: “Não dá pra escapar de mil bolas de futebol todas elas vindo na sua direção. Você que tem de sair de campo agora, para mais tarde ganhar o jogo.”, completa. Não é o fim, há muita gente lutando ainda por um mundo melhor, mas pra isso cada um precisa fazer a sua parte e ser ainda mais responsável por si e por todos.
P.S.: E aos fascistas bolsonaristas, saibam que quarentena não é achismo. Vocês odeiam a mídia e consideram tudo como politicagem porque suas passeatas não atravessam sequer a esquina.
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João
Gomes
(Recife, 1996) é poeta, escritor, editor criador da revista de
literatura e publicadora Vida
Secreta.
Participou de antologias impressas e digitais, e mantém no prelo seu
livro de poesia.
por Ângelo Fábio__
Estamos focados no combate à pandemia do coronavírus
(COVID-19) e assistimos aos constantes absurdos, que também
considero como uma pandemia mental, do então Presidente da República
Jair Messias Bolsonaro. Além da incapacidade administrativa, da
falta de diálogo e da ausência de um real posicionamento como líder,
tudo que sai da boca deste indivíduo beira a estupidez, a insensatez
e ao desrespeito humano. Sobre vários aspectos em jogo, pontuo a
falta de recursos para saúde pública, o enfraquecimento do
desenvolvimento econômico do país, a estagnação de políticas de
fomento à cultura e o enfraquecimento de medidas pontuais para a
defesa do meio ambiente. Estes e outros temas afetam diretamente a
autoestima da nossa população. E mais uma vez o setor cultural sofre
perdas. As alternativas para contenção dos problemas para a
categoria são cada vez mais escassas. É
importante frisar que, em 19/03/2020, uma conferência online reuniu
gestores e secretários estaduais de cultura. Foram apresentadas
propostas emergenciais para a Secretaria Especial de Cultura do
Governo Federal, através de um documento formulado pelo do Fórum de
Secretários e dirigentes estaduais.
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Alvim e Goelbbes |
Da
unção ao discurso Nazista. Uma cortina de fumaça até a chegada do
pum produzido pelo palhaço.
Um
assunto que repercutiu bastante no cenário cultural, em janeiro deste
ano, foi o vídeo divulgado pela Secretaria Especial da Cultura, em 17/01/2020, onde o até então Secretário Especial da Cultura,
Roberto Alvim, copiou e adaptou trechos do discurso nazista,
proferido pelo ministro da propaganda Joseph Goelbbes (1897 -
1945+).
“A arte brasileira da próxima década será heroica e será
nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento
emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente
vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não
será nada”.
Tal
discurso gerou uma onda de indignação e rejeição por parte de
vários setores no Brasil e no exterior, inclusive pela Embaixada da
Alemanha, que publicou uma nota de repúdio. Um dia antes do fatídico
pronunciamento, Alvim apresentava ao presidente Bolsonaro as novas
diretrizes do programa de incentivo à cultura, um projeto criado
dentro de um perfil conservador e segregador. Após seu polêmico pronunciamento, Roberto Alvim é exonerado
da Secretaria Especial da Cultura.
Regina Duarte e Roberto Alvim |
Em
04 de março, de 2020, a pasta é assumida pela “Viúva
Porcina ou a “Namoradinha
do Brasil”, Regina
Duarte. Ela, uma efusiva lutadora
pelos interesses do agronegócio, é contra a demarcação de terras
indígenas, além de se posicionar a favor dos cortes na cultura. No programa Conversa com
Bial (29.mai.2019) na Rede Globo o
apresentador e jornalista comenta: “Regina,
eu tô me coçando pra dizer uma coisa… Se ainda tivesse ministério
da cultura, você podia ser ministra da cultura. Não tem mais
Minc*...”.
Regina completa: “Isso aqui não é meu não. Não é uma ideia
minha, mas é uma ideia que eu compro inteiramente, eu endosso. ME
CHAMA PRO CONSELHO TÁ!?...”.
Desde então tínhamos o prenúncio de sua possível entrada no
extinto Minc, que hoje se resume a uma mera secretaria sem rumo.
Em
momento prévio, antes do anúncio da sua nomeação, em rede social
Regina sinaliza que “estar de corpo e alma com o governo e vai dar
o melhor pela causa.” Não é nenhuma novidade que governos
radicais findam ações ou qualquer proposta de melhoria no setor
artístico. A pasta da cultura já havia sofrido uma tentativa de
extinção no governo golpista de Michel
Temer (MDB-SP). Na ocasião se
discutia uma reforma ministerial, sendo o Ministério da Cultura o
primeiro da lista para ser extinto. O Minc
apenas sobreviveu por conta da pressão de diversos movimentos
culturais e sociais. Artistas de todo o país lutavam e ocupavam
espaços em atos de resistência. Atuamos para que o Ministério
da Cultura se mantivesse de pé,
mesmo com diversos problemas.
Mas
aos poucos os movimento de resistência perderam a força. Por outro
lado um [grupo de artistas
brasileiros cria no ano de 2019, o Movimento Artigo 5º em defesa da
liberdade de expressão e contra qualquer ameaça de volta à censura
no Brasil. É um movimento coletivo espontâneo e suprapartidário do
qual participam cineastas, atores, grupos artísticos, diretores,
escritores, profissionais da moda, gestores culturais, jornalistas e
advogados de todo o país que trabalham voluntariamente pelo respeito
à Constituição Brasileira, nascida em berço democrático, vital
para existência das atividades criativas e para a preservação do
direito de ir e vir, ser e existir e da liberdade de pensar e se
expressar.] - Fonte:
https://www.artigoquinto.art.br/
Em
2019, com a chegada do governo da “Pátria
A(R)mada Brasil”, o fim do
Ministério da Cultura
é oficializado. Sobra a categoria a criação de uma secretaria,
medida semelhante a do governo Collor,
que em represália a classe artística impôs o autoritarismo.
Nasce
então a Secretaria Especial da
Cultura sob a gestão de Roberto
Alvim, ex-artista(?), ungido pelo
apóstolo e “profeta” Kevin Leal,
da Igreja Bola de Neve Church,
no bairro da Lapa, em São Paulo. Alvim apresenta uma “máquina de
guerra cultural”, talvez a partir daquele momento já servindo como
uma cortina de fumaça para abrir as portas a tantos descasos e
quiçá, a própria Regina Duarte.
O
pronunciamento “nazista” de
Roberto Alvim não foi gratuito, e
sim orquestrado. A entrada da Regina talvez seja um aporte à
barbárie da cultura. No discurso da oficial da sua posse, ela diz que:
“Cultura é aquele pum produzido
com talco espirrando do traseiro do palhaço”. A partir daí já conseguimos visualizar o tanto que ainda está por
vir.
Colaborou: Taciana Oliveira
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*Acesse a entrevista do programa Conversa com Bial: Globoplay: https://globoplay.globo.com/v/7653765/)
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Ângelo
Fábio, 1981.
Artista interdisciplinar e produtor cultural que trabalha com o
cruzamento das linguagens cênicas. Fundador do
Pós–Traumático,
Hemisférios Itinerantes
(AR/BR) e
Caosmo Cia. Experimental.
Estudou jornalismo de
investigação na Universidade
Popular Madres de la Plaza de Mayo
e Licenciatura Direção Cênica (UNA), Argentina, porém
não concluiu os estudos universitários. É
idealizador do Cineclube
Universo Paralelo e co-idealizador da
Mostra Periférica,
em Camaragibe.
Também já foi diretor do Cine
Teatro Bianor Mendonça Monteiro (2017/2018),
produziu o livro Bianor – Trajetórias e Memórias
e promove o Encontro das
Artes Cênicas de Camaragibe
(2017/2019). Como ator e diretor, integrou diversas companhias
artísticas no Brasil e outros países.