por Bruno Ramalho__
saudade é dor em rio,
do olho-d'água da gente
à foz no mar do vazio.
*
profícua inconclusa,
a palavra,
remota lembrança
do que foi um dia,
faz, parida
da incerteza absoluta,
nascer enxuta, enfim,
a poesia.
*
em meio aos cacos
de um mundo louco,
os fracos acham
que poesia é pouco.
*
coleciono
insônias de paz;
durmo pouco,
suspeito,
porque acordado
sonho mais.
*
serei eu, minha gente,
um tolo a cumprir os prazos,
se o próprio tempo, ultimamente,
tem sido fiel aos atrasos?
*
do ido assentado,
faz pouco sentido:
um doido acentuado
nem sempre é doído.
por Alexsandro Souto Maior__
Concerto
sobre o pôr-do-sol
Pardais constroem a noite
Com o âmbar caído do céu
Esses pássaros cantam
Num coro dissonante
Uma melodia
De voos recolhidos
A preparar o solfejo do
silêncio
O inverso disso é manhã.
(SOUTO
MAIOR, Alexsandro . in A seiva, Recife:
Editora Villa Lux, 2020.)
Seiva
Toda poesia é seiva
Ela circula nos vegetais
Alimenta o corpo anoitecido
Enobrece a rua musguenta
E alvorece os vãos deste mundo.
(SOUTO
MAIOR, Alexsandro . in A seiva, Recife: Editora Villa Lux, 2020.)
Terceiro
dia
E a palavra
Renasce com os seus
penduricalhos
Um orvalho que vira verso
Uma teia escrita no ar por um
poeta
Um pássaro gorjeando em
concerto
Toda poesia é cheia de eternidade!
(SOUTO
MAIOR, Alexsandro . in A seiva, Recife: Editora Villa Lux, 2020.)